quinta-feira, 21 de julho de 2011

Série Resenha Crítica II

MARCONCINI, Benito.Os Evangelhos Sinóticos: Formação, Redação e Teologia.São Paulo:Paulinas,2001.

D.F.Izidro

TEMA DO LIVRO

         O Livro trata de fato daquilo ao qual se propõe – uma discussão histórico-teológica dos Evangelhos Sinóticos. Destacando os fatos concernentes a origem e formação dos Sinóticos, o autor apresenta ao leitor, de modo simples, e numa linguagem bastante acessível, o modo com que os Evangelhos surgiram, tomaram forma literária e foram usados pela igreja primitiva.
          O conteúdo deste livro é desenvolvido a partir de três palavras-chaves em todo o processo de origem do Sinóticos –  História, Formação e Redação. Marconcini destaca a importância histórica e autenticidade da tradição Evangélica, prosseguindo depois em mostrar de que modo tais eventos históricos tomaram “Forma” literária e foram posteriormente, por ocasião da redação evangélica, organizados e construídos para servir as comunidades contemporâneas na catequese e missão primitiva cristã. Além de traçar todo o processo de origem e formação dos Evangelhos Sinópticos, Marconcini também faz uma análise específica de cada Evangelho quanto a sua Teologia Intrínseca e Peculiaridades Literárias.
          No Final da obra, o autor disserta muito bem sobre os principais temas teológicos dos Sinóticos, dando assim ao leitor uma visão, pelo menos panorâmica, da Teologia que se encontra nos Evangelhos como um todo, uma Unidade Teológica. A Origem e Formação Literária dos Evangelhos Sinópticos é o principal escopo desta obra de Marconcini.

BREVE RESUMO

O Autor dá na Introdução do seu livro uma breve noção conceitual do que seria um Evangelho e do que se pretende dizer com a Expressão “Evangelhos Sinóticos”. Deste modo o autor introduz o leitor leigo nas subseqüentes discussões a respeito do tema.
          O autor divide a sua obra em três partes distintas, a saber :

1ª Parte: A Formação dos Evangelhos

          Na primeira parte do livro, o autor se dedica a explicar de que modo os acontecimentos históricos relacionados a Jesus tomaram Forma Literária e foram moldados no que hoje conhecemos como “Evangelhos”.  Contudo, antes mesmo de delinear toda a trajetória formativa dos Sinóticos, Marconcini descreve no capítulo 1 (um) um pouco da história da interpretação dos Evangelhos, bem como das Novas contribuições que surgiram através dos tempos para uma melhor compreensão dos mesmos.
           Marconcini também trata da discussão da historicidade da tradição Evangélica e do modo com que esta teria sido preservada autêntica não obstante todo o processo formativo e redacional.
No capítulo 2 (dois), Marconcini se concentra no evento Cristo como fato histórico pré-literário. Neste ponto da discussão, ele faz uma breve, mas relevante excussão pela geografia da Palestina, bem como sua situação Econômica e Social nos dias de Jesus, possibilitando assim ao leitor uma melhor compreensão dos dados evangélicos sobre Jesus e seu ministério.
Ao final do capítulo, Marconcini discute sobre a questão da Autenticidade dos Ditos de Jesus, apresentando bem claramente as evidências segundo as quais será possível demonstrar a originalidade de Jesus Cristo nos Evangelhos, bem como a conseqüente autenticidade de seus Ditos. O autor dá aqui, uma breve noção da metodologia empregada por estudiosos dos Evangelhos para avaliar a Autenticidade dos Ditos de Jesus conforme registrados nos Evangelhos Sinóticos.
No capítulo 3 (três), e a partir dele, Marconcini começa a descrever todo o processo originador e Formador dos Sinóticos. Neste capítulo, ele inicia por descrever o período tradicional dos Evangelhos, o momento em que as informações que se tinha sobre Jesus circularam oralmente.
O autor destaca neste ponto a influência da comunidade na formação dos Evangelhos a partir de sua próprias necessidades Litúrgicas e Missionárias. Marconcini demonstra o papel e a importância da comunidade na formação dos Evangelhos.
No capítulo 4 (quatro), prosseguindo na trajetória formativa dos Evangelhos, Benito Marconcini trata sobre o período redacional dos Sinóticos, ou seja, o momento em que a tradição oral e escrita sobre Jesus foi recolhido por seus respectivos autores e editado de forma coerente com a veracidade histórica dos dados e o Sitz im leben da comunidade. Se por um lado o autor se concentrara no papel da comunidade na formação dos Evangelhos, no capítulo anterior, aqui ele se detêm no papel dos Evangelistas na Redação final dos Evangelhos. Além de explicar de modo se deu o processo redacional dos Evangelhos, Marconcini também beneficia seus leitores com algumas exemplificações bem pertinente ao processo de Redação dos Evangelistas.
   
2ª Parte: Os Evangelhos Segundo Marcos, Mateus e Lucas

A partir do capítulo 5 (cinco), o autor começa uma análise mais específica de cada um dos Evangelhos Sinópticos quanto a sua Autoria, Comunidade, Dimensão Literária e Teologia intrínseca. A começar pelo Evangelho de Marcos, Marconcini destaca dentre outras coisas a validade da autoria marcana, em função de evidências internas (dados internos do Evangelho que se harmonizam com a idéia de que João Marcos seja o autor) e de evidência externas (a tradição da igreja e o depoimento de alguns dos pais da igreja em favor da autoria marcana a partir das “Reminiscências de Pedro”.
Ainda sobre a questão da autoria do Evangelho, o autor faz um breve histórico bíblico-tradicional da pessoa de João Marcos, conforme nos informam alguns dados bíblicos e da tradição da igreja. O autor defende também a possibilidade de uma data anterior a 70 d.C. para a redação do Evangelho de Marcos, um pouco antes da destruição de Jerusalém. Também se discute as dificuldades Redacionais de se reconstruir a comunidade original de Marcos a partir dos dados textuais de seu Evangelho, tendo em vista a problemática de distinguir tradição e redação neste mesmo Evangelho.
Contudo, o autor faz um levantamento bem coerente da algumas características principais desta comunidade de Marcos, segundo nos indicam alguns textos marquinos. No que diz respeito a dimensão literária do livro, Marconcini desta várias características literárias desse Evangelho, bem como a prevalescência da Narrativa Miraculosa do texto Evangélico Marquino.
Na Análise Teológica que faz do livro, o autor desenvolve a teologia Epifânica do livro, ou seja, a revelação progressiva da natureza de Cristo desde os primórdios de seu ministério até a Cruz, o grande Clímax Epifânico da Revelação da Pessoa de Jesus Cristo.
No capítulo 6 (seis), o autor trabalha com o Evangelho de Mateus. A questão da autoria é asseverada pelo autor neste ponto. Recorrendo a evidências externas oriundas dos diversos testemunhos de Pais da Igreja e a algumas característica internas que, segundo ele, apontam a autoria mateana do livro, Marconcini afirma sem pestanejar que Mateus, o discípulo publicano de Jesus, também chamado Levi, foi de fato o autor deste Evangelho. Contudo, o autor também destaca a opinião de outros estudiosos do Novo Testamento bem como sua argumentação mais básica a respeito.
Falando sobre a comunidade, o autor a identifica como sendo Antioquia, na Síria, capital da provincia romana, terceira cidade do Império, depois de Roma e Alexandria. A partir desta probabilidade, como ele mesmo o chama, Marconcini descreve algumas característica desta cidade e o seu papel na Igreja Primitiva. À luz do texto mateano, o autor faz algumas ponderações sobre a comunidade de Mateus bem como suas dificuldades e papel “formador” na redação do Evangelho, sem negar contudo, a grande problemática deste empreendimento redacional, cujo estudo está , segundo ele, mais no âmbito hipotético. Falando sobre a questão literária do Livro, Marconcini destaca algumas dentre as principais características literárias do Evangelho de Mateus, bem como seus freqüentes paralelismos e construções obviamente semiticas.
Sobre a estrutura literária do livro, o autor descreve algumas das possibilidades apresentadas na análise do livro e aceita como mais bem alicerçada no texto a divisão setenária do Evangelho, composta pelos cinco grandes discursos, pelos chamados “Evangelhos da infância” (Mt.1-2) e pela narrativa da morte e ressurreição (26-28). Contudo, o autor não considera tal estruturação literária de Mateus como sendo perfeita e inquestionável em todas as suas formas.
Discorrendo sobre a teologia do Evangelho, o autor destaca a continuidade do Antigo Testamento na pessoa e obra de Cristo Jesus. Além dessa ênfase de cumprimento veterotestamentário em Cristo, o autor também demonstra as várias ênfase do Evangelista em pelo menos três pontos bastante claros no texto mateano: a Eclesiologia, a Cristologia e a Ética. A partir da dimensão ética de Mateus, o autor faz uma importante descrição e análise do Sermão do Monte, tentando responder assim, as seguinte questões cruciais: as exigência éticas de Jesus são validas? Para quem se destinam? Como devemos entende-las? O autor termina sua discussão sobre Mateus fazendo uma breve descrição do que ele chama de “os Evangelhos da Infância” (caps. 1-2).
No capítulo 7 (sete), segue-se a discussão do autor sobre o Evangelho de Lucas. o capítulo se inicia pela questão da autoria do Evangelho e a partir desse ponto o autor destaca várias evidência externas tradicionais, como a citação de Pais da igreja, bem como evidências internas quanto ao carater histórico e estilístico do livro, para argumentar a autoria lucânica do livro evangélico. Diante de tais evidências a autoria lucânica, o autor considera assombrosa a resistência de alguns estudiosos à autoria lucânica. O autor deduz algumas características da comunidade de Lucas a partir de alguns textos do próprio Evangelho, dentre as quais, a atenuação da Expectativa Escatológica e o perigo de apostasia.
A dimensão literária do Evangelho é tratada nos tópicos sob o título composição literária e estrutura literária, onde o autor faz uma breve descrição das características formais e estruturais do Livro, enfatizando sempre o caráter histórico da composição evangélica lucana. O autor dedica mais tempo a análise teológica do Evangelho de Lucas. neste ponto ele demonstra a históricidade da teologia de Lucas, apontando o Evangelho como um registro histórico-teológico de uma história salvífica que vem desde o Antigo Testamento e que chega ao seu clímax na pessoa e obra de Cristo, bem como na continuidade da Igreja. O aspecto soteriológico de Lucas é enfatizado bem como a natureza de Cristo, conforme se vê na narrativa dos “Evangelhos da Infância”.

3ª Parte: Teologia

Na terceira e última seção deste livro, o autor trata de alguns dos principais temas teológicos que perpassam por todos os Evangelhos Sinóticos: Reino de Deus, As Parábolas, O Milagre, A Paixão e a Morte e a Ressurreição.
No capítulo 8 (oito), o autor começa pelo tema Reino de Deus. Neste ponto ele começa por definir as origens veterotestamentárias do termo a partir de alguns textos significativos do Antigo Testamento relacionados ao assunto. Depois prossegue demonstrando a novidade ou originalidade do Reino de Deus na mensagem e ditos de Jesus. O autor também destaca outros temas teológicos nos Evangelhos relacionados ao tema do Reino de Deus, como por exemplo: o reino e Jesus, o reino e a Igreja, o reino e a Escatologia, etc.
No capítulo 9 (nove), o novo assunto teológico-evangélico do autor são as Parábolas. O autor procura definir a natureza desse recurso literário e retórico a partir de suas origens conceituais e metodológicas. O autor também destaca o uso particular que Jesus fez das parábolas em seus ensinamentos. Jesus fez uso de um recurso conhecido e costumeiramente utilizado, contudo, de modo tão mais diferente e original. Também se discute o uso que a comunidade fez das parábolas de Jesus dando-lhes formas mais adequadas aos seus diferentes ouvintes.
O trabalho redacional dos Evangelistas no modo com que eles usaram estas Parábolas para seus fins teológicos e Eclesiásticos também é demonstrado neste capítulo, onde ele analisa o uso que cada Evangelista faz das Parábolas em seu respectivo Evangelho. O autor termina este capítulo fazendo uma importante distinção entre Parábola e Alegoria e fazendo uma definição mais densa e mais objetiva do que seria uma Parábola nos Evangelhos.
No Capítulo 10 (dez), o autor entra na discussão sobre o Milagre, conforme aparece nos Evangelhos. Seu trabalho começa por demonstrar a abundância deste material nos Evangelhos. Depois ele prossegue destacando o vocabulário usado nos Sinóticos para descrever tais manifestações miraculosas e fazendo uma classificação interessante dos tipos de Milagres encontrados ao longo do texto evangélico.
O autor também mostra as três perspectivas dos Milagres nos Sinóticos: Perspectiva Cristológica, Perspectiva Soteriológica e Perspectiva Histórica; por meio destas perspectivas, o autor destaca a finalidade dos Milagres dentro de cada contexto respectivo dos Evangelhos. O autor prossegue sua discussão sobre a perspectiva tríplice dos Evangelhos relacionando-os a outros assuntos de igual importância : O Milagre e a Palavra, Milagre e a Fé, o Milagre e a Ressurreição.
No capítulo 11 (onze), segue-se uma discussão do autor sobre o tema da Paixão e Morte de Cristo nos Evangelhos Sinóticos. O autor constrói sua exposição sobre este tema teológico tão denso nos Sinóticos pela descrição individual de cada um dos Evangelhos dentro de sua própria contribuição característica a narração e natureza da Paixão e Morte de Cristo. A começar pelo Evangelho de Marcos, ele destaca o aspecto mais dramatico e Epifânico da Paixão e Morte de Cristo como um clímax revelador de que Jesus é.
Já na descrição Mateana do evento a expectativa de algo “Novo” é mais forte que o drama da Paixão e Morte de Cristo. O Evangelho de Lucas retrata a história da Paixão e Morte como um fato histórico que aponta para um grande sofredor que entrega-se a dor para ver cumprido seu propósito soteriológico de redimir os perdidos pecadores. O autor dedica mais espaço e tempo a essa exposição de Lucas por entender que sua narração dos fatos é bem distinta da dos outros dois sinóticos, trazendo no seu esquema redacional pistas de seu propósito teológico mais específico.
No capítulo 12 (doze), último capítulo do livro, o autor termina fazendo algumas considerações breves sobre o significado da Ressurreição de Jesus, conforme estão nos Evangelhos. Marconcini situa o leitor na narrativa sinótica descrevendo a narrativa individual e mais específica de cada um dos sinóticos ao evento da Ressurreição de Jesus. A peculiaridade teológica de cada um deles na descrição dos fatos é bastante destacada neste ponto.
O autor prossegue levantando uma discussão relevante sobre a historicidade e natureza da ressurreição de Jesus e procura argumentar a favor de sua autenticidade percorrendo algumas provas. No final da sua obra e de sua discussão sobre o assunto da Ressurreição, com fins de explicar a natureza ou o sentido da Ressurreição de Jesus, o autor cita quatro termos utilizados nos sinóticos para ilustrar o assunto: Ressuscitado, Exaltado, Aquele que Está Vivo e Eficazmente Atuante.

ANÁLISE CRÍTICA
Aspectos Positivos
         
          A Leitura do livro é muito confortável e prazeirosa. Sua linguagem é simples e bastante compreensível. Mesmo um leito em assuntos neotestamentários pode ler e entender bem todo o livro de Marconcini. Além do mais, o livro está disposto de forma bem inteligente, seus pensamentos nunca são redundantes, antes pelo contrário, o autor parece tão objetivo que se torna uma tarefa difícil resumi-lo, destacando apenas os pontos que lhe são mais importantes.
         O autor faz levantamentos estatísticos importantes nos textos evangélicos nos assunto sobre milagre e parábolas. O livro é uma excelente introdução ao processo de origem e formação dos Evangelhos Sinóticos, além disso a análise de características literárias que faz de cada um dos sinóticos é de grande utilidade para posteriores exegeses dos livros. A discussão final do livro consegue ser concisa e aprofundada colocando os leitores iniciais dos sinóticos em contato direto com a teologia fervilhante nestes livros. Todo leitor do Novo Testamento deveria ler este livro.

Aspectos Negativos

O livro falha em deixar de trabalhar mais aprofundadamente com as teorias das fontes dos Evangelhos. O autor opta quase que injustificadamente pela hipótese das duas fontes, sem, no entanto, dissertar a respeito dessa teoria e das outras propostas mais conhecidas a respeito. A discussão sobre a questão das fontes dos Evangelhos é tão superficial que chega a ser quase inexistente na obra de Marconcini. O autor também insiste muito na influência comunitária na formação do conteúdo sinótico, algo que parece-me deve ser considerado mais restritivamente.
O autor também têm os Evangelhos como obra literária sui generis o que é bastante questionável hoje se aceito tão radicalmente como parece propor o autor desse livro.

       
 


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