quinta-feira, 21 de julho de 2011

Série ROMANOS:O Evangelho de Paulo I

Situação Histórica Formativa da Epístola de

 Paulo aos Romanos

D.F.Izidro

Autoria

         Quanto à afirmação da própria carta de ter sido escrita por Paulo (1.1), não tem se levantado sérias contestações – pouca dúvida há sobre a autoria paulina dessa epístola.[1]
         Romanos está incluída em todas as listas de cartas de Paulo conhecidas.
         Não obstante, apenas alguns liberais da Escola alemã de Tübingen negam a autoria paulina de Romanos.
         A epístola aos Romanos está entre as cartas aceitas como autenticamente paulinas pela maioria dos estudiosos críticos do NT, a saber, I e II Coríntios e Gálatas.
         Sem dúvida, Paulo é o autor dessa epístola que leva o seu nome.

Amanuense

         Segundo 16.22, Tércio foi o amanuense que escreveu Romanos. É possível que Tércio fosse membro da igreja em Corinto e talvez até um escravo de Gaio (anfitrião de Paulo em Corinto, cf.ICo.1.14), o qual deve ter colocado este seu escravo à disposição do apóstolo, para a composição desta carta.
         Amanuenses eram escribas ou secretários formados, os quais eram contratados para escrever o que lhes era ditado pelo verdadeiro autor da Carta ou Documento.
         O uso de Amanuenses se deve ao custo alto do papiro (para se evitar o desperdício) e ao baixo índice de alfabetização no mundo da época.
         Uma outra evidência do trabalho de um Amanuense se pode notar pelas saudações e/ou conclusões finais de próprio punho escritas por Paulo no final de algumas de suas Epístolas (cf. Gl.6.11; 2Ts.3.17;ICo.16.21;Cl.4.18;Fm.19), pois quando um amanuense escrevia uma carta, era comum o autor acrescentar uma saudação ou conclusão final de próprio punho.
         Embora não haja plena certeza disso, é provável que a maioria das cartas do Novo Testamento tenha sido produzida pelo uso de Amanuenses (cf.I Pe.5.12; II Tm.4.11). Já a Epístola de Filemom, por outro lado, parece ter sido escrita pelo punho de Paulo mesmo (Fm.19).
         Debate-se entre os estudiosos sobre o grau de liberdade que o autor de uma carta dava ao seu escriba na escolha das palavras da carta. Uma resposta que tem sido dada a essa questão é que o grau dessa liberdade dependia em muito da habilidade do escriba e do nível de intimidade que ele tinha com o verdadeiro autor.
         Muitos estudiosos acreditam ser possível explicar as diferenças de estilo entre as epístolas pastorais e as demais epístolas de Paulo com base no trabalho peculiar dos amanuenses.
         Não obstante Paulo talvez tenha dado certa liberdade a seu amanuense na redação de suas cartas, em Romanos não há indícios de que isso tenha de fato acontecido.

Situação e Intenções de Paulo à Luz da Epístola

         Observações de Paulo sobre seus próximos planos informam sobre a situação em que a epístola foi escrita.
         De acordo com 15.22-29, três localidades estão nos planos de viagem de Paulo: Jerusalém, Roma e Espanha.
         O primeiro destino de Paulo é Jerusalém e em sua oração de 15.30-33 percebe-se a expectativa de Paulo em relação a essa viajem.
         Paulo está levando aos cristãos judeus pobres de Jerusalém uma oferta recolhida entre as igrejas gentílicas que ele plantou (cf.15.25-27), mas não está seguro sobre como a oferta será recebida. A sua expectativa é que a oferta seja aceitável aos crentes judeus e que isso ajude a consolidar as relações entre cristãos judeus e gentios. Não obstante, Paulo solicita aos cristãos de Roma que orem por esse projeto.
         No itinerário de Paulo, Roma é o seu segundo destino, no entanto, apenas de passagem para o seu verdadeiro objetivo, a Espanha (15.24,28).
         O olhar de Paulo está sobre a longínqua Espanha, pois a tarefa inicial de plantar igrejas no Mediterrâneo oriental já está completada (cf.15.19). Agora Paulo intenta cumprir o seu chamado em território pioneiro.


Sobre o Local e Data da Redação da Epístola

         A redação de Romanos localiza-se no final de sua terceira viagem missionária, conforme descrita em At.20.1-5.
         Corinto é o local mais provável para a redação da epístola. Lucas nos informa que Paulo passou três meses na Grécia (At.20.3), e é bem provável que o apóstolo tenha ficado em Corinto, e lá tenha redigido a sua epístola, pelas seguintes razões: 1) Paulo recomenda Febe, que vivia em Cencréia, uma cidade vizinha a Corinto, à igreja de Roma (16.1,2); 2) o Gaio que manda saudações em 16.23 pode ser o mesmo que Paulo batizou em Corinto (cf.I Co.1.14); 3) alguns estudiosos acreditam que o Erasto mencionado em 16.23, o tesoureiro da cidade,  é o mesmo cujo nome foi encontrado numa inscrição na cidade de Corinto.[2]
         Paulo aproveitou-se dos três meses, em Corinto, para ordenar seus pensamentos num documento muito bem escrito. Não resta a menor dúvida que esta carta é a melhor organizada e mais bem pensada de todas as cartas de Paulo. As palavras foram cuidadosamente escolhidas.
         Ele também aproveitou a viagem de Febe a Roma, a qual levaria esta carta a Roma. Tudo que se pode saber sobre essa “irmã” esta aqui em 16.1ss. É bastante provável que Febe tenha sido a portadora dessa importante epístola.
         A Data em que Paulo escreveu Romanos dependerá, portanto, da data dos três meses que ele permaneceu na Grécia; e determinar essa data depende, por sua vez, da cronologia da vida e ministério de Paulo como um todo. Não obstante, é provável que uma data entre 55-57 d.C. seja a melhor alternativa.

BIBLIOGRAFIA

BROADUS,David Hale.Introdução ao Estudo do Novo Testamento.Rio de Janeiro:Editora Juerp,1983.
CARSON,D.A.;MOO,Dougla;MORRIS,Leon.Introdução ao Novo Testamento.São Paulo:Editora Vida Nova,1997.
CULLMANN,Oscar.A Formação do Novo Testamento.São Paulo:Editora Sinodal,1984.
GUNDRY,Robert H.Panorama do Novo Testamento.São Paulo:Vida Nova,1978.
KUMMELL,W.G.Introdução ao Novo Testamento.São Paulo: Paulus/Teológica,2003.
QUESNEL,Michel.Paulo e as Origens do Cristianismo.São Paulo:Paulinas,2005.
TERRA,João E.M.Revista de Cultura Bíblica – Cartas de São Paulo.São Paulo:Edições Loyola,2000.


[1] Estudiosos têm questionado a autenticidade das seguintes epístolas de Paulo: Efésios, Colossenses, II Tessalonicenses, I e II Timóteo e Tito. Estas são chamadas epístolas deutero-paulinas, pois embora não sejam da autoria de Paulo, refletem a teologia e o pensamento dele, tendo sido quiçá produzidas por alguns de seus discípulos. As demais epístolas de Paulo são consideradas autênticas pela maioria dos estudiosos críticos.
[2] Há uma inscrição, descoberta em Corinto e datada do primeiro século da era cristã, que diz: “Erasto, comissário das obras públicas, lançou este pavimento às suas próprias custas”. “Tesoureiro” e “Comissário” não são títulos equivalentes, mas é possível que Erasto tenha mudado de cargo em algum momento.

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