segunda-feira, 11 de julho de 2011

A Ressurreição de Jesus de Nazaré II

A Ressurreição de Jesus e as Origens do Cristianismo

Prof.D.F.Izidro

         As origens do Cristianismo primitivo estão envoltas no seguinte problema histórico:
         Tendo Jesus de Nazaré morrido vergonhosa e terrivelmente na cruz como um criminoso e,estando seus discípulos agora também sujeitos à mesma punição romana incitada pela aristocracia judaica, como explicar os seguintes fatos históricos relacionados:
         1) A Proclamação , intrépida e entusiasmada dos discípulos, e sob ameaça de morte,da Ressurreição de Jesus de Nazaré,de seu messiado e da chegada do Reino de Deus;
         2) A Conversão de Judeus contemporâneos à fé na messianidade de Jesus e na chegada do Reino de Deus nele.

          (1) Primeiro Problema Histórico: Como explicar a Proclamação, intrépida e entusiasmada dos discípulos, e sob ameaça de morte,da Ressurreição de Jesus de Nazaré,de seu messiado e da chegada do Reino de Deus.
         Consideremos primeiramente os seguintes fatos:
     a) Jesus de Nazaré, seu líder, estava morto e sepultado;
     b) Os discípulos estavam escondidos com medo (Jo.20.19);
     c) Os discípulos demonstraram ter perdido seu entusiasmo inicial e sua fé estando céticos mesmo quanto a possibilidade de Jesus estar vivo (Mt. 28.17, 18;Jo.20.24-25;Lc.24.17-24).
         Como explicar historicamente como e/ou porque os discípulos de Jesus simplesmente não só recobraram o ânimo como passaram a proclamar com ousadia e agressividade os seguintes pontos característicos do khrugma (Kérygma [proclamação]) cristão primitivo:
         (1) A chegada do Reino de Deus ( basileia tou qeou [basileía toû theoû]);
         (2) A Messianidade de Jesus de Nazaré (recentemente morto vergonhosamente);
   (3) A ressurreição de Jesus de Nazaré (recentemente sepultado).

(1)     A chegada do Reino de Deus
(basileia tou qeou [basileía toû theoû])

         Jesus anunciou a chegado do Reino de Deus nele (Mc.1.14,15;Mt.12.28) e seus discípulos  também (At.8.12;19.8;28.31).
         Os cristãos primitivos viviam como se o reino de Deus esperado pelos judeus tivesse chegado finalmente. Problema Histórico: mas o que convencera os cristãos disso?

(2)     A Messianidade de Jesus de Nazaré

         Os cristãos primitivos anunciavam Jesus como messias (At.3.36), não obstante seu fim vergonhoso e contraditório com relação às expectativas messiânicas correntes.

“[...] uma vez que Jesus de Nazaré foi certamente crucificado como um rei rebelde, é extremamente incomum que os primeiros cristãos não apenas insistissem que ele era realmente o Messias, mas reordenassem sua visão de mundo, sua práxis, suas estórias, símbolos e teologia em torno desta crença.” (WRIGHT,1998,p.8).[1]

         Problema Histórico: o que convenceu e levou os discípulos à convicção de ser justamente esse homem o Cristo?

(3)     A ressurreição de Jesus de Nazaré, não obstante seu sepultamento

         Os cristãos primitivos anunciaram a ressurreição de Jesus – não há forma de cristianismo primitivo que não o tenha feito (At.3.15;5.30; Rm.6.3-11). Problema Histórico: o que teria levado seus discípulos a crerem em sua ressurreição, não obstante o testemunho de sua morte e sepultamento?

        (2) Segundo Problema Histórico: A Conversão de Judeus contemporâneos à fé na messianidade de Jesus, em sua ressurreição e na chegada do Reino de Deus?

 Como explicar a fé dos judeus que seguiram a Jesus na chegada do Reino de Deus?

“Dentro do Judaísmo a vinda do reino de Deus significava o fim do exílio de Israel, a derrota de um império pagão e a exaltação de Israel, e o retorno de YHWH a Sião para julgar e salvar.” (WRIGHT, 1998,p.6)

“Para um judeu do Segundo Templo, então, a vinda do reino não era sobre uma experiência existencialista privada ou gnóstica, mas sobre eventos públicos. De modo muito específico, sobre a libertação de Israel. De modo mais geral, era sobre a vinda da justiça e libertação de Deus para o cosmos inteiro.” (WRIGHT, 1998, p.6)

         Essa expectativa judaica prevalecente, porém, não se cumpriu e os cristãos primitivos anunciaram o Reino de Deus em outra perspectiva, não nacionalista, nem política.
         Não obstante o Reino de Deus não tivesse chegado como os judeus o aguardavam, os cristãos primitivos proclamavam sua chegada e muitos judeus criam e se convertiam – porque?
         Os judeus que se convertiam agiam como se o Reino de Deus da expectativa judaica tivesse chegado. N.T.Wright acrescenta ainda:

“Como explicamos o fato assegurado, de dentro da visão de mundo judaica, de que o eschaton havia chegado, mesmo não se parecendo com o que eles imaginavam que se pareceria? A resposta cristã primitiva era, é claro, que Jesus havia ressuscitado dentre os mortos. Que era por isto que eles diziam que o reino havia vindo e que a nova era havia despontado.” (WRIGHT,1998,p.7)

Como explicar a fé dos judeus na messianidade de Jesus de Nazaré?

         O que levaria os judeus a crerem em Jesus de Nazaré como Messias, não obstante sua morte vergonhosa numa cruz romana e aparente fracasso?
         Um judeu do I século jamais creria num candidato a Messias com essas características. As expectativas messiânicas, mesmo sendo diversas, apontam sempre para um Messias politicamente triunfante.
         As expectativas messiânicas incluíam (1) a derrota dos pagãos e (2) a restauração/ purificação do Templo, sucessivamente.

“Se um messias fosse morto pelos pagãos, especialmente se ele não tivesse reconstruído o Templo ou libertado Israel, este era o mais seguro sinal de que ele era mais um em uma longa linha de falsos messias.” (WRIGHT, 1998,p.)

         Como explicar, então, a fé dos judeus na messianidade de Jesus de Nazaré, morto pelos pagãos?
         N.T.Wright sumariza bem o problema histórico com a seguinte colocação:

“Se, após a morte de Simão bar-Giora no triunfo de Tito em Roma, ou se, após a morte de Simeão ben-Kosiba em 135, você tivesse afirmado que Simão, ou Simeão, realmente era o Messias, você conseguiria uma resposta apropriadamente dura de um judeu comum do primeiro século.” (WRIGHT,1998,p.8)

         A única coisa que pode tê-los convencido da paradoxal messianidade de Jesus de Nazaré é o fato de sua Ressurreição dentre os mortos.

“ [...] por que o Cristianismo começou, sem falar em que continuou, como um movimento messiânico, quando seu Messias tão claramente não apenas deixou de fazer aquilo que se esperava que um Messias fizesse mas sofreu um destino que devia mostrar conclusivamente que ele não poderia ter sido o ungido de Israel? Por que este grupo de judeus do primeiro século, que tinham acalentado esperanças messiânicas e as centralizado em Jesus de Nazaré, não apenas continuaram a crer que ele era o Messias apesar de sua execução, mas ativamente o anunciaram como tal tanto ao mundo pagão como ao mundo judaico, alegremente redesenhando o quadro do messianismo em torno dele, mas se recusando a abandoná-lo? A resposta que eles deram, consistentemente por toda a evidência que possuímos, era que Jesus, após sua execução sob a acusação de ser um pretenso Messias, havia ressuscitado dentre os mortos.” (WRIGHT,1998,p.9)

Como explicar a repentina fé dos judeus na ressurreição de Jesus de Nazaré e no cumprimento da ressurreição escatológica que inaugurararia a nova era?

         Vejamos qual era a concepção judaica da ressurreição:

“Onde os judeus do Segundo Templo acreditavam em ressurreição, então, a crença se referia, de um lado, à reincorporação de seres humanos anteriormente mortos, e, por outro lado, à inauguração da nova era, à nova aliança, na qual os justos mortos seriam levantados simultaneamente. Ressurreição significava que os mortos voltariam novamente à vida com corpos renovados e a Era Vindoura teria afinal sido inaugurada.” (WRIGHT,1998,p.10).

         Um judeu do I século não jamais creria na chegada da ressurreição escatológica ao menos que os mártires e sumidades judaicas houvessem ressuscitado e/ou que Israel tivesse sido restaurado;
         Não obstante, observa Wright (1998,p.10):

“[...] muito embora... a nova era não tivesse se iniciado da maneira que os judeus do primeiro século imaginavam, e a ressurreição de todo o povo de Deus não tivesse acontecido, ainda assim a igreja mais antiga persistia em afirmar abertamente não apenas que Jesus havia ressuscitado dentre os mortos, mas também que a ‘ressurreição dos mortos’ tinha acontecido.”

         Como estamos vendo, apenas o fato da ressurreição de Jesus poderia convencer os judeus da chegada da ressurreição escatológica e de tudo o que a mesma implicaria.
         Podemos concluir o problema histórico das origens do cristianismo em ambiente judaico com as seguintes observações de N.T.Wright:

“Se pensarmos em termos de Judaísmo do primeiro século, é impossível conceber que tipo de experiência religiosa ou espiritual alguém poderia ter que o faria dizer que o reino de Deus havia chegado quando claramente tal não aconteceu, que um líder crucificado era o Messias quando ele obviamente não o era, ou que a ressurreição havia acontecido no mês passado quando obviamente não havia.” (WRIGHT,1998,p.10)

         Temos, portanto, um paradoxo histórico que requer explicação consistente.
         A explicação mais coerente com o pano de fundo judaico, embora extraordinária, para esse problema histórico é a que tem sido dada e apontada pelas fontes e fatos históricos sobre a morte de Jesus e as origens do cristianismo: Jesus de Nazaré ressuscitou dentre os mortos.
         O historiador anglicano N.T.Wright (1998,p.15) participa dessa conclusão e por isso propõe “ que não há, de fato, outra solução para o problema histórico do que concluir que alguma coisa notável aconteceu ao corpo de Jesus.”
         Em outras palavras, Jesus de Nazaré atravessou a morte e reapareceu redivivo.



[1] Todas as citações de N.T.Wright foram extraídas de WRIGHT,N.T.As Origens Cristãs e a Ressurreição de Jesus: A Ressurreição de Jesus como um Problema Histórico.(Originalmente publicado no Sewanee Theological Review 41.2, 1998).

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