quarta-feira, 27 de julho de 2011

Série Resenha Crítica III

CARSON,Donald A.Teologia Bíblica ou Teologia Sistemática.São Paulo: Vida Nova,2001.1ª Edição.95 págs.

D.F.Izidro

Resumo Descritivo


          No capítulo 1, “Definição da Questão”,o autor levanta o problema que pretende analisar: São os documentos do Novo Testamento tão divergentes e contraditórios em termo de linguagem e conceitos teológicos ao ponto de não poderem servir de base para a construção de uma teologia sistematizada?
         O autor também deixa claro seu objetivo com essa obra: descrever e criticar as obras mais importantes sobre o assunto oferecendo também reflexões aos conservadores sobre o Novo Testamento enquanto Palavra de Deus. As obras que serão resenhadas por Carson são as que seguem: Walter Bauer,Orthodoxy and Heresy in Earliest Christianity e J.D.G.Dunn,Unity and Diversity in the New Testament: An Inquiry into the character of Earliest Christiantity.
          No capítulo 2, “Definições de Trabalho”,Carson apresenta sua definição de “Teologia Bíblica” e “Teologia Sistemática” de conformidade com o uso que o mesmo fará desses termos em seu livro: “Teologia Sistemática” como ramo da teologia que tem por objetivo a elaboração das partes e do todo das Escrituras,demonstrando suas conexões lógicas,reconhecendo a história das doutrinas,as questões contemporâneas e baseando-se nas Escrituras como autoridade final; “Teologia Bíblica” seria o estudo particular de cada segmento das Escrituras,no que diz respeito especialmente ao seu lugar na história da revelação progressiva de Deus.
         Não obstante, Carson declara que toda “Teologia Sistemática” precisa ser bíblica,e toda “Teologia Bíblica” pode e precisa ser sistematizada. Carson faz algumas indagações sobre a definição convencional que se tem dado a esses termos: toda teologia é (ou tem de ser) necessariamente “bíblica”; e necessariamente “sistemática”. Carson deixa claro também como a questão relativa à unidade e diversidade do NT afeta tanto a teologia bíblica como a teologia sistemática. Daí, portanto, conclui o autor que a construção de uma teologia sistemática está condicionada à unidade do Novo Testamento (sem falar também do AT).
            No capítulo 3, “Crítica”, Carson efetua, então, a avaliação crítica, com a contribuição de outros autores, às obras de Bauer e Dunn,com maior ênfase nesse último. Contra Bauer, Carson apresenta os argumentos críticos de autores como Hunter, Turner e Marshall em favor da Unidade, no mínimo teológica e conceitual, do Novo Testamento.
         A tese de Bauer é considerada, especialmente sob a argumentação de Marshall, taxativamente falsa: os conceitos de ortodoxia e heresia não são fenômenos recentes no cristianismo primitivo e nem se deram por causas não religiosas. Contra Dunn,que segue Bauer amplamente,contudo estendendo os mesmos pressupostos ao primeiro século,o que,com base no que foi dito antes,já põe em cheque a tese de Dunn,Carson questiona o uso parcial e seletivo de evidências neotestamentárias e acusa o mesmo de reivindicar argumento profundo em livro superficial.
          Presumindo um conceito elevado das Escrituras, mas ao mesmo tempo sem ignorar a diversidade do Novo Testamento, no capítulo 4, “Reflexões Positivas”,o autor aponta uma série de reflexões críticas sobre a possibilidade de construir uma teologia sistemática com base nos documentos diversos do Novo Testamento. Nesse capítulo, o autor segue argumentando sobre o significado e correta interpretação do fenômeno da diversidade no Novo Testamento e que,não obstante tal diversidade assim admitida e compreendida,o Novo Testamento é um documento Unitário de forma geral.
          No capítulo 5, “Conclusão”, Carson fecha sua obra destacando a importância homilética de estabelecer as bases de nossa doutrina, uma vez que a mesma é e deve ser proclamada. E enfatiza também que, a despeito da diversidade de linguagem e formas de administração da igreja das origens, havia uma unidade de pensamento que torna a teologia sistemática não apenas possível,mas necessária,estando a teologia moderna que constata isso metodológica e doutrinariamente deficiente.
         Conclui dizendo que assim como é impossível que haja uma teologia sistemática sem que o Novo Testamento seja fidedigno, da mesma forma não é concebível que mesmo sendo os documentos neotestamentários fidedignos não haja a possibilidade e necessidade da teologia sistemática.

Análise Crítica

          Considero a posição de Carson sobre o assunto perfeitamente plausível e convincente – Teologia Bíblica e Teologia Sistemática são indissociáveis e necessárias uma a outra, desde que bem compreendidas e adequadamente relacionadas. Malgrado, a argumentação de Carson, especialmente no seu quarto capítulo, é largamente complexa e de difícil apreensão.
         Contudo, talvez o problema seja do leitor e não do autor. A discussão e argumentação do livro sobre a questão da Unidade e Diversidade do NT e de sua relação com a teologia sistemática parece-me seria melhor compreendida por aqueles que já têm algum conhecimento do assunto,pois o autor parece estar escrevendo para estudiosos conservadores.
         Têm-se a sensação de que a argumentação de Carson se dá mais no âmbito lógico-filosófico, criticando e questionando a validade dos argumentos de seus oponentes, do que em evidências e descobertas histórico-metodológicas (especialmente no capítulo 4). De forma geral, creio que o autor conseguiu demonstrar criticamente, e de forma bem compactada, não apenas a possibilidade, como também a necessidade de uma Teologia Sistemática aliada a Teologia Bíblica.

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