sexta-feira, 12 de abril de 2013

Teologia do Novo Testamento: Definição e Problema

D.F.Izidro


1. Definição de Teologia do Novo Testamento
 
          Segundo George Eldon Ladd,

“ A teologia bíblica é a disciplina que estrutura a mensagem dos livros da Bíblia em seu ambiente formativo histórico. A teologia bíblica é basicamente uma disciplina descritiva, cuja abrangência não busca primeiramente o significado final dos ensinos da Bíblia, ou sua relevância para os dias atuais, uma tarefa da teologia sistemática. A tarefa da teologia bíblica é expor a teologia encontrada na Bíblia em seu contexto histórico, com seus principais termos, categorias e formas de pensamento.”[1]
          A Teologia do Novo Testamento, portanto, faz parte da grande área da Teologia Bíblica. Trata-se da descrição exegético-histórica do conteúdo teológico dos escritos neotestamentários cada qual em sua própria particularidade e com suas próprias categorias e definições.
          A Teologia do Novo Testamento, pois, é uma disciplina de natureza histórica e exegética, embora não possa abstrair da teologia.

2.      O Problema da Teologia do Novo Testamento

          Para alguns estudiosos contemporâneos, a Teologia do Novo Testamento está em crise, pois não há entre as obras dos pesquisadores mais recentes concordância quanto a natureza, método e objetivo da teologia do NT. Norman Perrin fala de “confusão” no estudo da teologia neotestamentária;[2] há consenso entre os pesquisadores de que a teologia do NT é um ponto crucial no debate teológico atual.
          Muitos dos problemas básicos estão relacionados, por exemplo, ao lugar de Jesus na teologia do NT. Se por um lado, Rudolf Bultmann entende que “a mensagem de Jesus é mais uma pressuposição para a teologia do NT do que uma parte da teologia em si”[3], por outro lado Joachim Jeremias trata da mensagem de Jesus em todo seu primeiro volume da Teologia do Novo Testamento.[4] Para o estudioso britânico S. Neill, “Toda teologia do Novo Testamento tem que ser uma teologia de Jesus ou não é absolutamente nada”.[5] As divergências escondem problemas de natureza histórica, teológica, filosófica e metodológica nas abordagens à teologia do NT apresentada por muitos estudiosos.
          Não obstante, de forma mais geral, as controvérsias acadêmicas em torno da teologia do NT dizem respeito aos seguintes itens: (1) Metodologia; (2) A questão do Centro Unificador do NT/ Unidade e Diversidade no NT; e (3) O relacionamento entre AT e NT.
          Segundo estudiosos como Werner Georg Kümmel[6], a pergunta pela teologia do NT confronta-nos com a questão da unidade do NT diante da pluralidade de vozes teológicas que há nele. A diversidade do Novo Testamento fora sentida desde a Reforma, pelo próprio Lutero quando da tradução do Novo Testamento em Wartburg (1521/1522), o qual expressou tal descoberta no prefácio de sua tradução em 1522.
          Mas essa pluralidade no testemunho da fé neotestamentária foi ignorada na Igreja Protestante devido o conceito de Autoridade das Sagradas Escrituras. Foi com o advento do Iluminismo no século XVIII, que o conteúdo teológico do NT foi exposto como uma grandeza histórica autônoma, respeitando-se a peculiaridade histórica e doutrinária de cada um de seus escritos separadamente. A Bíblia, então, passou a ser estudada livre dos laços dogmáticos da Igreja e com o auxílio dos métodos da ciência histórica. Logo que a peculiaridade e diversidade do conteúdo teológico da Bíblia foi descoberta, a exposição do AT e NT foi totalmente diferenciada. As diferenças dentro de cada Testamento foram aventadas bem como as possibilidades de seu eventual desenvolvimento.
          Desde o início, portanto, o estudo da pesquisa do NT se viu diante do problema da unidade e diversidade de seus testemunhos. Além disso, a impossibilidade de uma Unidade no NT tornou também impossível a existência de uma Teologia Sistemática com base nele.
          O que Lutero havia observado em alguns exemplos isolados, a pesquisa científica histórica evidenciou no século XIX: Há no NT uma pluralidade de vozes que por vezes parecem se contradizer e/ou se manifestam de modos tão diferentes que não podem passar ao largo de um exame crítico e criterioso.
          A difícil tarefa da teologia do NT, portanto, consiste em permitir que cada escrito, ou grupo de escritos, manifeste seu testemunho, para que depois disso, então, possamos perguntar pelo que há em comum entre esses testemunhos, bem como constatar as diferenças que não podem ser superadas.
          Esse estudo, porém, é bastante dificultado pela discordância que há entre os estudiosos quanto a determinação exata das condições históricas em que surgiram esses escritos.
          O resultado dessas dificuldades consiste nas várias e diversificadas abordagens metodológicas e pressuposições sobre a natureza e significado da Teologia do NT.




[1]    LADD,G.E.Teologia do NT,pg.38.
[2]    N.PERRIN,Jesus and the Theology of the New Testament,Catholical Biblical Association,Colo.,18 a 21 de agosto,1975.
[3]    R.BULTMANN,Theology of the New Testament,Londres,1965,I,p.3.
[4]    J.JEREMIAS,NT Theology:The Proclamation of Jesus (1971).
[5]    NEILL,Jesus Through Many Eyes,p.10.
[6]    KUMMEL,W.G.Síntese Teológica do Novo Testamento,pgs.29ss.

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